
INTRODUÇÃO
A pandemia do novo coronavírus exigiu mudanças no estilo de vida e modus operandi das sociedades como um meio de frear a transmissão da doença, reduzir o número de mortes e evitar a sobrecarga dos sistemas de saúde. Com isso, fez-se necessária a implantação do isolamento social e do lockdown em alguns países do globo, incluindo o Brasil. Os efeitos dessas medidas, entretanto, não surgiram apenas no âmbito da saúde, mas também foram sentidos em outros setores sociais, como o econômico e o ambiental.

Índice de isolamento social em São Paulo entre março e dezembro de 2020. Crédito: Governo do Estado de S. Paulo
Essas mudanças ambientais foram amplamente comentadas nas redes sociais, a exemplo das imagens e vídeos de paisagens em processo de recuperação das ações destrutivas dos seres humanos, agora dentro de suas casas. Uns desses locais foram os canais de Veneza, com águas mais límpidas pela ausência de turistas.
Excluindo a ideia de “o lado bom da pandemia” ou “o novo normal”, a crise se apresentou como um freio ao modo de vida predatório e à sociedade de consumo, inerentes ao sistema capitalista. Através da desorganização global, vê-se um momento conveniente para deixar velhos hábitos para trás e desenvolver uma nova perspectiva de reestruturação, considerando princípios ecológicos e sustentáveis para uma relação mais equilibrada entre meio ambiente, sociedade e economia - movimento que ficou conhecido como retomada sustentável.
PANDEMIA X MEIO AMBIENTE
A relação entre a covid-19 (Sars-Cov-2) e o meio ambiente, entretanto, dá-se muito antes da chegada da doença aos seres humanos. A teoria mais aceita pela comunidade científica é de que o vírus tenha origem natural e se espalhou através do contato entre os animais hospedeiros e as pessoas. Nesse contexto, são apontados os morcegos e pangolins comercializados vivos ou mortos no mercado de Wuhan, na China, cidade em que foram registrados os primeiros casos de coronavírus, em dezembro de 2019.
Sendo assim, tal fato não foi ao acaso: quanto mais os seres humanos se aproximam de áreas preservadas e têm mais contato com espécies “exóticas”, maior é o risco ao contágio por patogênicos antes restritos à selva. “Muitas doenças estão relacionadas à invasão do habitat de animais que mantêm um ciclo de doenças silvestres. Ao invadir esses habitats, o homem se torna vítima das mesmas. Um exemplo é a febre amarela silvestre, cujo ciclo é entre primatas não humanos, tendo como vetor mosquitos do gênero haemagogus. O mesmo é válido para o coronavírus”, explica Marcos Boulos, infectologista e professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Além da febre amarela, pontuada pelo especialista, outros exemplos a serem citados demonstram que a história se repetiu nas últimas décadas. De acordo com o United Nations Environment Programme (2020), há também o ebola, a gripe aviária, a gripe suína (H1N1), a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), a síndrome respiratória aguda súbita (SARS) - os dois últimos, tipos de coronavírus - e o zika vírus.
No total, uma pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 2016, aponta que 60% de todas as doenças infecciosas emergentes nos seres humanos são zoonóticas e estão intimamente ligadas à saúde dos ecossistemas. Dessas, todas relacionadas à destruição de habitats naturais, consumo de animais silvestres, manuseio de carne sem os protocolos de higiene e mudanças climáticas.
Essa não foi a primeira pandemia de origem zoonótica enfrentada pela humanidade e, infelizmente, autoridades científicas estimam que também não será a última. A Word Wild Fund for Nature (WWF), através do relatório Covid-19: Chamada Urgente para Proteger as Pessoas e a Natureza, apontou que a pandemia do coronavírus é apenas mais uma na longa lista de doenças emergentes que continuarão a atingir a humanidade, caso a relação predatória com a natureza permaneça.
“Vale lembrar que o desmatamento, as queimadas, as mudanças climáticas foram os causadores da dispersão dessa doença, chegando a ponto de pandemia. Então, quantas outras estão prontinhas para emergir? Existem relatórios do Fórum Econômico Mundial (FEM) e de outras organizações alertando que, inclusive, a possível futura pandemia pode estar sendo gerada nesses locais onde a gente vivenciou grandes desmatamentos e queimadas. Sim, estamos falando do Brasil. Sim, estamos falando da Austrália, principalmente, onde a gente viu esses impactos no último um ano e meio, mais ou menos, bem acelerado”, afirma Mariana Schuchovski, doutora em Ciências Florestais e consultora em sustentabilidade da Verde Floresta.
IMPACTOS AMBIENTAIS
Unindo os efeitos trazidos pelo lockdown à origem do coronavírus, a pandemia tem tudo para ser considerada uma pauta ambiental. Entretanto, os debates sobre os impactos causados pelos seres humanos à natureza acabaram por ser deixados de lado em função do combate à doença e o cenário de luto pelas mais de 190 mil vidas perdidas entre os meses de março de dezembro de 2020, apenas no Brasil. No mundo, o total chegou a 1,8 milhão de óbitos no mesmo período.
Mesmo com os olhares direcionados à crise de saúde pública, como mencionado pela especialista, ainda há muito a ser discutido sobre os impactos ambientais, positivos ou negativos, da pandemia. Alguns deles são consequências temporárias à imposição do isolamento social, enquanto outros podem ser grandes aliados no momento de retomada, por um modelo de sociedade mais ecológica e pelo desenvolvimento sustentável.
Segundo Marcos Boulos, o primeiro passo para romper com o ciclo de pandemias, aliando a saúde com os cuidados ao meio ambiente, é a preservação. “Não só pela conservação ambiental, que permite que os animais silvestres mantenham seu ciclo sem percalços, como também ao respeito dos habitats evitando invasão indiscriminada dos habitats silvestres”, explica.
Agregando todos esses fatores, a “Isolados: o meio ambiente sobre o prisma da pandemia” busca apresentar e refletir sobre os principais impactos ambientais da primeria fase de pandemia, entre os meses de março e dezembro de 2020, dividindo-os em três eixos principais: florestas, resíduos sólidos urbanos e efeito estufa. Nestes, destacam-se a aprovação de políticas públicas e medidas que intensificaram o desmatamento dos biomas brasileiros, o aumento da produção de resíduos domésticos aliado à percepção sobre os hábitos de geração e consumo e as consequências à emissão de gases do efeito estufa (GEE) resultante da paralização parcial das atividades econômicas e sociais.
Para finalizar, medidas e ações, individuais e de esforço conjunto, partindo da visão de acordos globais, são apresentadas como uma proposta para adquirir novos hábitos e cumprir objetivos sustentáveis para perspectivas de futuro mais esperançosas.
SOBRE
Trabalho de Conclusão de Curso produzido por Milena Garcia e Vinicius Lage, sob a orientação de Maria Cristina Gobbi, para o curso de Comunicação Social - Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"

